Por Fernanda Araujo
Uma criança de apenas quatro anos faleceu na manhã do domingo (14), Dia das Mães, com suspeita de meningite, na Unidade de Pronto Atendimento do município de Tobias Barreto (SE). Durante quase dois dias médicos tentaram fazer a transferência da criança para outros hospitais, sem mais condições de esperar por vaga, Sofia Carvalho Cruz não resistiu.
A criança havia sido encaminhada de um hospital da Bahia para a unidade de saúde do município na sexta-feira, 12. Bastante abalada, a mãe, Jocielma Nascimento de Carvalho, lembra que a filha passou mal e começou a vomitar. Pelo Raio X foi constatado que a criança estava com os pulmões inchados; ela foi internada, mas teria que ser transferida para um hospital especializado.
“No sábado me avisaram que ela teria que ser transferida para Aracaju porque ela tinha perdido o movimento do corpo, não sentava, não segurava nada na mão, nem mexia a cabeça. Mas não conseguiram transferência, o médico da Bahia veio pra Tobias, tentou até duas horas da manhã, mas não conseguiu. Ele viria no domingo transferir ela para Salvador, mas foi tarde demais. Eu perdi minha filha”, disse.
Segundo o médico clínico que atestou o óbito, Ednando Bezerra, a criança chegou às 8h30 da sexta em quadro de saúde crítico, com rigidez de nuca. Médicos plantonistas providenciaram a regulação para transferência da paciente para os hospitais de Lagarto, Itabaiana e ainda ao Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), em Aracaju, mas em nenhum deles tinha vaga. Em Lagarto, por exemplo, não havia pediatra.
Com orientações de uma pediatra do Huse, os médicos de Tobias Barreto iniciaram a administração de medicamentos clínicos utilizados em caso de meningite. Nesse período, uma nova tentativa de transferência foi frustrada por falta de vagas. “A criança não respondeu à medicação, teve duas paradas cardíacas, tentaram reanimá-la, mas as 8h40 entrou em óbito”, afirma o médico.
A mãe conta ainda que não foram feitos exames e que a criança apenas recebia medicamentos, chegando a ficar isolada em um quarto onde ela só poderia entrar com máscara.
“Ela chegou a falar comigo, perguntou pelos tios, pela avó, pelo irmão, pai. Eu liguei para o pai, ela falou com ele, com a madrinha dela, depois ela olhou pra mim e disse que iria melhorar para ir pra escola e brincar com as amigas. Eu disse ‘tá bom, melhore para a gente ir pra casa’. Ela olhou pra mim e pediu ‘mainha, me dê um beijo’, eu dei o beijo e ela parou de respirar”, disse Jocielma.
De acordo com o médico, a unidade não tem condições de desenvolver um trabalho em termos de diagnóstico, principalmente de pediatria, que é um atendimento especializado e, neste caso, especificamente, quando há uma suspeita de doença infectocontagiosa que envolve tanto a prevenção da criança e dos familiares. A família da criança deve acionar a Justiça contra o Estado.
Foto: Agência Sergipe de Notícias